domingo, 8 de fevereiro de 2009

Razões corporativas para confusão conceitual.

8/11/08
Creio haver identificado os motivos inconfessáveis de algumas censuras a alguns dos procedimentos obrigatórios de conservação do acervo natural, botânico e paisagístico do SRBM.
Os jardineiros (não todos, é claro) inclinam-se por minimizar seu trabalho, afinal, conforme lhes é dito pelo sindicato, “não ganham pra isso”. Querem também, é lógico, aumentar seus salários, mas sabem que isso é mais difícil, pois no IPHAN, além do direito a aposentadoria integral – um grande privilégio em nossa sociedade – já recebem mais dinheiro do que poderiam ganhar fora dele, como empregados da iniciativa privada.
Os dirigentes sindicais (não todos, é claro) querem parecer necessários aos jardineiros, que os elegem. Por isso posam de defensores indignados com a injustiça da relação muito-trabalho/pouco-salário. Para a política de alguns sindicalistas é bom que os jardineiros os percebam não só como aliados para aumentar os ganhos, mas também como advogados para diminuir suas contrapartidas individuais a esses ganhos, ou seja, para reduzir as tarefas pelas quais são pagos.
Em vista deste quadro de interesses, confundir paisagismo com ecologia é altamente proveitoso tanto para os sindicalistas como para os jardineiros, como veremos a seguir.
Numa reserva ambiental de preservação ecológica é proibido por lei retirar espécies nativas mesmo que ainda em formação. É assim – reduzindo a ação humana ao mínimo – que os princípios ecológicos poderão aí se manifestar em harmonia. Já numa área projetada paisagisticamente, como um jardim ou parque, precisa haver esforço constante para manter a ordem implantada culturalmente pelo homem com freqüente erradicação de plantas invasoras espontâneas, geralmente nativas que brotam de sementes trazidas pelo vento ou por pássaros. Portanto existe uma radical oposição entre o que se deve fazer numa reserva ambiental ecológica e o que é necessário em terrenos de projetos paisagísticos.
A pessoa responsável pela manutenção de um parque conhece o insuperável contraste entre os dois tipos de tratamento, pois isso lhe é indispensável para alcançar sucesso na sua tarefa.
Assim sendo, numa lógica perversa e até (em alguns casos) inconsciente, é compreensível que os conceitos para a manutenção do SRBM sejam propositalmente confundidos pelos jardineiros e pelos sindicalistas que os apóiam, pois há muito mais trabalho a ser realizado dentro de um parque do que dentro de uma reserva. Nesta as funções se resumem a fiscalizar/impedir danos à natureza e naquele são jardinagem propriamente dita, o que inclui poda, adubação, transplantes, plantio, irrigação, fitossanitarismo, e até mesmo – “ó crime inafiançável” – erradicação de espécimes clandestinos.
Na peça Julio César, de Shakespeare, o personagem Brutus recomenda, durante o planejamento do assassinato de César, que os conspiradores devem se comportar como “sacrificadores”, em vez de parecerem “açougueiros”, pois sacrifícios eram então legítimos, indispensáveis e até louváveis para causas nobres. Já no outro caso, a ação do grupo seria percebida em sua real crueza e egoísmo.
Analogamente, ao pedir a cabeça de um diretor ou ao denunciá-lo a autoridades que coíbem crimes ambientais, um grupo não deve parecer estar motivado por motivos egoístas. É muito melhor agir como “nobres defensores da natureza” do que, aos olhos de todos, como apenas interessados em vantagens pessoais. Daí, nesses casos, a confusão conceitual – deliberada ou inconsciente, maligna ou ingênua – entre paisagismo e ecologia.

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