4/8/2000
O escritor, historiador, político ativo e teórico, membro da Academia Francesa, senador, oito vezes ministro, Alain Peyrefitte, em sua obra “A Sociedade de Confiança”, afirma que existe forte correlação entre a prosperidade de um povo e o grau de confiança que permeia seus indivíduos.
Com efeito, nada se faz em sociedade sem ter por base esta espécie de fé no semelhante. Quanto esforço, formalidade e burocracia são poupados, e quantas perspectivas novas se abrem, quando existe confiança!
Creio que Roberto Burle Marx, sua obra e colaboradores são um exemplo que corrobora essa tese.
Sem falar em qualidade, é impressionante a quantidade de coisas, materiais e imateriais, que Roberto deixou: jardins, plantas, pinturas, lutas, projetos, painéis, ensinamentos, tapeçarias, conferências, esculturas, desenhos, frases, etc. Entretanto, no meio disso tudo, ele nunca perdeu oportunidade de repetir que sua maior riqueza eram os amigos:”— Se eu não sei fazer ou não conheço uma coisa, um amigo meu sabe.”
E Roberto Burle Marx confiava plenamente nas pessoas. Dentre suas esplêndidas qualidades, esta, ao meu ver, é a que mais o distinguia, embora outras, como a generosidade, o talento múltiplo, a honestidade intelectual e o espírito, fossem bem mais conspícuas. Penso que, talvez, ele só tenha conseguido criar o Sítio e, por extensão, sua obra paisagística por causa da grande confiança que depositava nos amigos e, por extensão, no ser humano. Cabe repetir um exemplo eloqüente, que possibilitou a perpetuação de sua mais importante obra: quando José Tabacow e eu propusemos doar seu sítio à Fundação Pró Memória, ele disse apenas: “— Façam como acharem melhor”. E estou certo de que cada um, qualquer um, dos que trabalharam com ele pode lembrar de uma história de confiança equivalente.
Seus inúmeros colaboradores, emocionalmente tocados pelo incomum teor de confiança recebido, sentiam-se agraciados com algo muito valioso e procuravam retribuir, geralmente, com o melhor deles próprios. Desencadeavam-se, então, colaborações intensas que Roberto dirigia, orientava, tecia, orquestrava, sem se colocar em plano superior. Alguém, cujo nome não lembro, disse que Shakespeare se parecia com todos os homens, menos pelo fato de se parecer com todos os homens. Pois Roberto demonstrava estar no mesmo nível de seus parceiros, menos pelo fato de se colocar no nível de cada um.
Foi esta qualidade, formidável (como o “óbvio ululante” de Nelson Rodrigues) e, por isto mesmo, (pelo menos, até agora, para mim) invisível, que moveu os ânimos de quantos se acercaram do mestre, estabeleceu um ambiente de trabalho fascinante e tornou possível tantas realizações belas, importantes e fundamentais.
Não é demais relembrar, por ocasião do aniversário de sua morte, que a confiança no próximo, essa capacidade de pular no escuro, esse desprendimento, essa coragem, essa fé, era, também e muito, o nosso Roberto Burle Marx.
quarta-feira, 11 de março de 2009
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Homenagem a Luiz Emygdio no Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro
26/06/2002
É para mim uma honra muito grande ter sido convidado para falar na seção solene desta casa em homenagem a tão ilustre amigo, seu presidente.
Não sei se estou à altura da empreitada, mas gostaria de lembrar três episódios que ilustram a personalidade do professor Luiz Emygdio, certo de que todos terão histórias equivalentes, pois sua vida foi pródiga em passagens marcantes que evidenciavam seus grandes caráter, sabedoria e inteligência.
Numa das muitas excursões de Roberto Burle Marx para estudo e coleta de plantas em ecossistemas brasileiros intocados de que participou, sempre distribuindo o saber com brilho e generosidade, deparou-se num determinado ponto com plantas que para ele eram interessantíssimas pelo ineditismo, talvez, mas que não tinham tanta significação em termos paisagísticos. Roberto, como de costume, não tinha tempo a perder com aquele “capinzal de quinta ordem” e instava todos a prosseguirem na expedição, mas Luiz Emygdio o conteve:
“— Calma Roberto, que eu agora estou em pleno êxtase botânico.”
Freqüentemente citei esta passagem para meus alunos, pois demonstra que o conhecimento ilumina, a cultura entusiasma e o amor pelos dois transforma em palco de beleza mesmo cenários aparentemente desinteressantes para quem passa sem se aprofundar.
A companhia do professor sempre foi intensamente valiosa e agradável. Seus comentários não eram simplesmente técnicos ou acadêmicos. Ele sabia despertar o interesse com aspectos curiosos de cada planta para nós, o comum dos mortais.
Sua participação desde o primeiro instante no Conselho do Sítio Roberto Burle Marx foi de valor inexcedível. Enriqueceu-o com indicações de novos conselheiros, altamente qualificados, como o doutor Ubiratan Corrêa e o professor Ernani Diaz.
Com seu espírito desassombrado, era um grande aliado naquilo que eu chamo de luta pelo esclarecimento do que é conservar um jardim tombado — assunto larga e teimosamente incompreendido pelos idólatras, em geral histéricos, da paisagem congelada.
Numa dessas reuniões, diante da peroração preciosista, pedante e burocrática de uma participante, defensora da idéia equivocada de preservação do Sítio como se inanimada obra de arquitetura fosse, sussurrou-me demonstrando sua fleugma e bom humor:
“— Bizâncio tinha que cair.”
Outra atitude, a meu ver emblemática, foi o ensinamento a um dos jardineiros que estava preocupado contando os minutos que faltavam para a própria aposentadoria:
“— Não queira se aposentar, isto é um perigo. Eu nunca quis isso para mim.”
Tenho pena de que ele não tenha visto pronto o caminho já quase por abrir à visitação que passa no Sítio Roberto Burle Marx pela coleção de uma de suas famílias favoritas — as Helicônias.
A única planta que Roberto Burle Marx classificou foi a Heliconia emygdiana e a escolha desse nome revela o apreço de nosso saudoso mestre a este outro saudoso mestre. Certamente estarão trocando considerações sobre a botânica celestial nos jardins do paraíso.
O teatrólogo Nelson Rodrigues disse a um amigo que, passados 20 anos da morte do pai, confessava não ter ainda se recuperado:
“— Não se recupere nunca.”
Acredito que a mesma sugestão terá que ser seguida pelo Conselho do Sítio Roberto Burle Marx.
É para mim uma honra muito grande ter sido convidado para falar na seção solene desta casa em homenagem a tão ilustre amigo, seu presidente.
Não sei se estou à altura da empreitada, mas gostaria de lembrar três episódios que ilustram a personalidade do professor Luiz Emygdio, certo de que todos terão histórias equivalentes, pois sua vida foi pródiga em passagens marcantes que evidenciavam seus grandes caráter, sabedoria e inteligência.
Numa das muitas excursões de Roberto Burle Marx para estudo e coleta de plantas em ecossistemas brasileiros intocados de que participou, sempre distribuindo o saber com brilho e generosidade, deparou-se num determinado ponto com plantas que para ele eram interessantíssimas pelo ineditismo, talvez, mas que não tinham tanta significação em termos paisagísticos. Roberto, como de costume, não tinha tempo a perder com aquele “capinzal de quinta ordem” e instava todos a prosseguirem na expedição, mas Luiz Emygdio o conteve:
“— Calma Roberto, que eu agora estou em pleno êxtase botânico.”
Freqüentemente citei esta passagem para meus alunos, pois demonstra que o conhecimento ilumina, a cultura entusiasma e o amor pelos dois transforma em palco de beleza mesmo cenários aparentemente desinteressantes para quem passa sem se aprofundar.
A companhia do professor sempre foi intensamente valiosa e agradável. Seus comentários não eram simplesmente técnicos ou acadêmicos. Ele sabia despertar o interesse com aspectos curiosos de cada planta para nós, o comum dos mortais.
Sua participação desde o primeiro instante no Conselho do Sítio Roberto Burle Marx foi de valor inexcedível. Enriqueceu-o com indicações de novos conselheiros, altamente qualificados, como o doutor Ubiratan Corrêa e o professor Ernani Diaz.
Com seu espírito desassombrado, era um grande aliado naquilo que eu chamo de luta pelo esclarecimento do que é conservar um jardim tombado — assunto larga e teimosamente incompreendido pelos idólatras, em geral histéricos, da paisagem congelada.
Numa dessas reuniões, diante da peroração preciosista, pedante e burocrática de uma participante, defensora da idéia equivocada de preservação do Sítio como se inanimada obra de arquitetura fosse, sussurrou-me demonstrando sua fleugma e bom humor:
“— Bizâncio tinha que cair.”
Outra atitude, a meu ver emblemática, foi o ensinamento a um dos jardineiros que estava preocupado contando os minutos que faltavam para a própria aposentadoria:
“— Não queira se aposentar, isto é um perigo. Eu nunca quis isso para mim.”
Tenho pena de que ele não tenha visto pronto o caminho já quase por abrir à visitação que passa no Sítio Roberto Burle Marx pela coleção de uma de suas famílias favoritas — as Helicônias.
A única planta que Roberto Burle Marx classificou foi a Heliconia emygdiana e a escolha desse nome revela o apreço de nosso saudoso mestre a este outro saudoso mestre. Certamente estarão trocando considerações sobre a botânica celestial nos jardins do paraíso.
O teatrólogo Nelson Rodrigues disse a um amigo que, passados 20 anos da morte do pai, confessava não ter ainda se recuperado:
“— Não se recupere nunca.”
Acredito que a mesma sugestão terá que ser seguida pelo Conselho do Sítio Roberto Burle Marx.
O Itamaraty e o Sítio Roberto Burle Marx - História da doação do Sítio
2/2/98
Em inúmeras viagens realizadas Brasil adentro, procurando plantas em locais de vegetação intocada, Roberto Burle Marx e sua equipe muitas vezes cruzamos o caminho de Von Martius.
Para fazer a "Flora Brasiliensis" – o maior trabalho escrito, em qualquer assunto, de alguém sobre um país que não o próprio – o botânico alemão, cognominado "O Pai das Palmeiras", percorreu durante 3 anos, a partir de 1817, os estados do Rio, São Paulo, Minas, Bahia, Goiás, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas.
José, que havia lido o livro "Viagem pelo Brasil" de Martius e de seu companheiro zoólogo Von Spix, nos informava durante as excursões:
– Por aqui passou Von Martius!
Era o suficiente para nos transportarmos em pensamento àquele mesmo local menos cento e sessenta e tantos anos. A curiosidade e o espírito comparativo surgiam, inevitáveis: o que teria mudado neste período ao longo do trajeto?
Arquiteto, paisagista e sócio de Roberto na época, José Tabacow teve então a ideia de refazer a viagem de Von Martius e me convidou a participar.
Tratando de viabilizar o projeto, reduzimos logo de saída o percurso total para um que nos custasse apenas um mês, pois só dispúnhamos das férias. Seria uma viagem piloto. Como não tínhamos experiência de refazer viagens, deixaríamos o resto para depois. Para aumentar as chances de encontrar as mesmas espécies em flor, limitamo-nos aos caminhos percorridos pelos alemães no mesmo mês. Ficamos então com 3 Julhos para escolher e, entre o amazonense, o maranhense e o mineiro, o mais barato ganhou: Julho de Araçuaí a Januária.
Nosso entusiasmo era grande e começamos a trabalhar na pesquisa e na busca de patrocínio ao mesmo tempo.
Nesse ponto a história se bifurca e um dos ramos passa pelo Itamaraty, por sua esplêndida mapoteca e pelo contato com uma senhora cujo auxílio, além de possibilitar o projeto, contribuiu para também viabilizar o principal fruto do outro ramo: o Sítio Roberto Burle Marx que ainda não existia com esse nome.
A referida senhora chama-se Isa Adonias. Ela nos mostraria os mapas antigos de que precisávamos, e que só ela saberia onde encontrar, bastando o enunciado de questões tais como: — Onde fica Porto de Angicos? — Como foi possível aos viajantes divisarem a serra do Grão Mogol, "flutuando como nuvem azul", olhando para o poente desde um ponto que fica uns 40 km ao sul da cidade de mesmo nome? Etc., etc.
A resolução desses problemas foi, graças à riqueza cartográfica do Itamaraty e à ajuda de sua eficientíssima funcionária, uma deliciosa brincadeira de detetive que nos animou a continuar na procura por patrocínio.
Já tínhamos riscado fontes tidas como certas, como o ICBA e o Instituto Goethe, que não colaboraram apesar de nossos argumentos. (Lembramos que Dom Pedro II sustentou o trabalho de Von Martius e, depois que o Império foi derrubado, a República honrou o compromisso do Imperador até 1906, quando acabou a publicação da obra).
Decidimos então procurar um amigo meu, o designer João de Souza Leite, que trabalhava na Fundação, de inesquecível nome, Pró-Memória como Coordenador do Núcleo de Editoração.
– A ideia é boa mas precisa ser mais estaiada. Estaiando daqui, estaiando dali, ela vai ficar tão firme que acaba saindo sozinha.
Achei a metáfora perfeita, mas percebi que meu amigo estava nos dizendo um educado não. Na minha ignorância dos assuntos do patrimônio histórico e artístico perguntei então se a Pró-Memória gostava de plantas também ou só de casas. Em outras palavras: se se preocupava apenas com o patrimônio arquitetônico e artístico ou se o meio ambiente também era objeto de seus cuidados. João Leite me explicou que os ecossistemas e o meio ambiente eram contemplados nos estatutos do SPHAN e Pró-Memória como bens culturais.
– Veja, por exemplo, o seguinte: a Fundação acabou de comprar o Museu do Ruschi, ou melhor, o grande naturalista dos beija-flores, Augusto Ruschi, doou seu Museu para que depois de sua morte seja preservado pelo governo. De acordo com ele, fizemos os estatutos que orientarão o destino dessa entidade chamada Museu Mello Leitão. Desde já a Fundação Pró-Memória assume as despesas com funcionários, gás, luz, telefone, impostos, etc. A inobservância dos estatutos acarretará a reversão da doação para seus herdeiros naturais.
– Vocês não querem comprar também o Sítio do Burle Marx? – perguntei.
A fisionomia de João Leite se iluminou:
– Porquê? Está à venda?
José percebeu instantaneamente que a prioridade mudara e passou a explicar a história das dificuldades crescentes de Roberto na manutenção do Sítio, de sua preocupação com o destino que o formidável patrimônio natural, científico e artístico teria quando ele morresse e dos desentendimentos com seu irmão, sócio e co-proprietário do Sítio, Guilherme Siegfried Marx. Disse também que, naquelas condições, o Sítio não sobreviveria três meses a Roberto. Acrescentei que há muito tempo ele vinha falando em transformá-lo numa fundação sem conseguir realizar o plano.
– Fundação eu acho péssimo. Sendo particular eu acho péssimo – advertiu João Leite – viram o que aconteceu com a Fundação Castro Maia?
Calculei que boa coisa não devia ter sido e tratei de não desviar do nosso novo, inesperado e interessantíssimo assunto:
– Roberto nem sabe que estamos aqui e muito menos falando disso, portanto é bom que fique entre nós por enquanto.
Saímos do Palácio Gustavo Capanema e fomos direto para o escritório de Laranjeiras onde apresentei a ideia.
Depois de ouvir tudo com a máxima atenção, sem perguntar rigorosamente nada, Roberto disse apenas uma frase:
– Façam como acharem melhor.
Em meio à vertigem provocada pelas perspectivas que se abriam e pela facilidade com que as coisas começavam a se encaixar, liguei para o João Leite que falou com Irapoan Cavalcanti de Lyra, Diretor-Executivo, que falou com Marcos Vinicios Vilaça, Presidente do Pró-Memória, que moveu os devidos céus e terras.
Encadearam-se, de Agosto de 84 a Março de 85, muitas reuniões com o pessoal da Fundação, com advogados e com amigos de Roberto para o estudo e adaptação de estatutos de entidades congêneres. No final de cada uma dessas reuniões voltávamos sempre à demanda original:
– E a nossa viagem?
– Vão tocando, vão tocando, está tudo bem – era a resposta invariável.
Houve brigas, acordos, almoços, festas, solenidades, aconteceu a doação, (uma grande amiga de Roberto, a Senhora Maria do Carmo Nabuco, chegou até a dizer: – Roberto, você não tem a menor ideia do tamanho da sua generosidade.), o Sítio Santo Antônio da Bica foi tombado estadualmente, passando a se chamar Sítio Roberto Burle Marx, e a humilde viagem de nossa equipe de seis pessoas durante um mês em Minas, pernoitando nos "melhores" hotéis de cidades como Botumirim e Itacambira - que disputam o título de Capital Mundial da Doença de Chagas - acabaria saindo pelo Sítio, como seu primeiro projeto de pesquisa.
Num certo sentido, foi necessário inventar nosso próprio patrocinador.
Apesar de um relativo sucesso (o relatório sobre o que mudou e o que permaneceu ao longo do trecho da viagem de Martius foi transformado numa exposição no Paço Imperial patrocinada, justiça seja feita, pelo ICBA/Instituto Goethe), o efeito colateral da pesquisa foi incrivelmente maior do que o objetivo pretendido no início. Atiramos num ratinho e acertamos um elefante que, caindo, esmagou o ratinho.
A inesquecível Fundação chama-se, agora, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, órgão do Ministério da Cultura e o SRBM é uma de suas Unidades Especiais.
Desde Novembro de 1995 estou diretor do SRBM e, passados quase catorze anos da morte de nosso saudoso mestre, fico feliz ao relembrar outra frase dele: "O tempo se encarrega de completar uma idéia". Ela se adapta perfeitamente à situação do Sítio hoje, são e salvo, conservado como a obra-prima de alguém que soube tratar a Natureza de maneira inteligente, apaixonada e, em última análise, prudente, pois há indícios de que sua forma de proceder - um paradigma ético e estético -, é condição sine qua non para a sustentabilidade de nossa estabanada espécie neste planeta delicado.
Roberto tem pontos em comum com o Itamaraty. Um de seus mais belos projetos é para o palácio de Brasília. Tinha inúmeros amigos diplomatas e ele próprio era um embaixador da cultura de nosso país. E a preservação de seu inestimável legado, através da tênue trama que envolve a instituição do Sítio Roberto Burle Marx, também tem algo a ver com a Casa do Barão do Rio Branco.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Resposta ao Parecer do arquiteto Carlos Fernando Delphim sobre Normas para Intervenções nos Jardins Tropicais do Sítio Burle Marx
11/12/2002
Em primeiro lugar gostaria de informar que, no tempo em que estou na direção do SRBM/IPHAN, raramente uma cópia de parecer sobre o Sítio foi mandada simultaneamente para cá. Quase sempre as obtive praticamente de “contrabando”, depois que já haviam circulado muito tempo em instâncias para mim desconhecidas. Tampouco sei quantos ainda me faltam. Com certeza não tenho o resultante da inspeção feita pelo arquiteto Carlos Delphim no Sítio, em 1999. Apenas, pelo Memorando 283/99/Gab/DEPROT da então diretora Márcia Sant’Anna, fui informado laconicamente que, como resultado daquela inspeção: “...as intervenções de manejo efetuadas no Sítio Roberto Burle Marx foram consideradas corretas”. O parecer atual, datado de 24/10/2002 é o primeiro que recebo em tempo hábil (em 3/12/2002).
Considero essa freqüente exclusão de informações pouco produtiva. Afinal todos estamos preocupados com a preservação, ainda que tenhamos conceitos diferentes e até, talvez, opostos. Embora com riscos de ferir suscetibilidades, a transparência e o franco trânsito das idéias são a forma de contribuir para que mais rápido cheguemos a um consenso, ou pelo menos a um acordo, ou, na pior das hipóteses, a uma definição impositiva.
No caso presente, devo dizer que discordo do parecer em muitos pontos. Para minha surpresa, o autor incorre nos equívocos mais corriqueiros, que apontei de forma geral no artigo “O Tombamento do Sítio Roberto Burle Marx”, elaborado logo após a sessão do Conselho do IPHAN comemorativa do centenário de Gustavo Capanema, em 10/8/2000. Nesta sessão histórica, dentre outras medidas, ficou estabelecido o tombamento do SRBM e que dever-se-ia iniciar uma discussão para definir os procedimentos compatíveis com tão importante ato. Foi precisamente para dar início a esta discussão que escrevi o artigo e o enviei ao Dr. Carlos Heck, presidente do IPHAN, a três de seus conselheiros que protagonizaram o debate naquela sessão, ao DEPROT, à PROJUR e aos conselheiros do Sítio. Não sei se o arquiteto Carlos Delphim o leu, pois disso não deu mostras em seu parecer.
Mas vamos aos pontos de discordância:
1. O Parecer Delphim trata a totalidade das áreas do Sítio como obra de arte de Roberto Burle Marx e, em conseqüência, como um jardim histórico. Essa interpretação não corresponde à realidade, nem é conveniente.
a) Não corresponde à realidade porque há, no Sítio, áreas remanescentes de depósitos de materiais diversos, invasões de plantio de bananeiras, áreas de mata nativa secundária, viveiros de mudas abandonados, etc. e áreas que RBM nunca conheceu, pisou, nem incluiu em planos ou experiências paisagísticas. Estas áreas não podem ser consideradas obra de arte nem jardim, quanto mais histórico. Esse engano, incrustado na base conceitual do Parecer Delphim, contamina suas analogias, eivando-as de inadequação. Por exemplo, na página 8 ele diz: “Os jardins não diferem de nenhum outro bem cultural no que se refere às condições de intervenção. Alguém mandaria mudar uma pintura de Burle-Marx (sic) sob alegação de que ele nunca teria usado uma certa forma ou um certo tom de azul?”. A analogia é imprópria, pois Roberto sempre defendeu que as plantas devem ser plantadas em ambientes compatíveis com sua natureza. Por esta razão, se encontrarmos uma cactácea da caatinga, plantada num canteiro aquático poderemos com certeza afirmar que RBM não faria isso (a não ser que desconhecesse a procedência da planta. Mesmo assim, ao vê-la definhar, rapidamente a tiraria dali). Insistindo no erro, na página 6 o Parecer Delphim sustenta que — “Esses jardins (do Sítio) eram produzidos ao longo do tempo, tendo apenas a criatividade e vontade criadora do autor por orientação.” — e esquece-se das lições ditadas pelo meio ambiente, do respeito aos ecossistemas e às associações naturais, que, despertado pelo botânico Mello Barreto, Roberto procurava seguir e ensinar a seguir.
b) Não é conveniente porque a missão do SRBM é ser um centro de estudos de paisagismo, botânica e conservação da natureza, nessa ordem, segundo seu próprio criador. Roberto doou o Sítio para isto e não para ser transformado num templo de culto ao lado artístico de sua personalidade. Pelo aspecto didático, imposto por respeito à vontade de RBM, deduzimos como necessidade fundamental a atualização. Isso não quer dizer que se vai tocar sem motivo nas áreas que podem ser consideradas como jardim histórico ou obra de arte, mas nas outras, coleções podem e devem ser ampliadas e toda vez que o aspecto didático ou estético de alguma feição do Sítio for prejudicada, deveremos intervir. Por exemplo: uma planta rara, talvez já extinta em seu habitat natural devastado, da qual contávamos com apenas um espécime na coleção, mas que porventura conseguimos multiplicar, deverá ser plantada também em outra área do Sítio para aumentar as probabilidades de sucesso em sua preservação, para testar sua adaptabilidade a outro ambiente, para demonstrar sua aptidão de uso em paisagismo e, enfim, para desafogar os sombrais. O SRBM além de obra de arte é também um laboratório ao ar livre onde se preserva um fazer iniciado por Roberto e que não deve ser estancado sob pena de perda cultural irreparável e amputação da principal função da coleção de plantas. Seria como se o Instituto Oswaldo Cruz, ao ser tombado, tivesse também suas culturas microbianas, coleções científicas, fabricação de vacinas e experiências congeladas. Esse aspecto-função do SRBM, pioneiro no Brasil, nunca é lembrado ou mencionado por quantos até hoje se propuseram a estabelecer suas normas de manutenção. E, no entanto, existem ainda na coleção, acondicionadas em latas provisórias, inúmeras mudas, verdadeiros tesouros vegetais deixados por RBM, à espera do tempo certo para serem plantadas. Algumas destas mudas encontramos sem qualquer indicação de origem, com identificação dificultada pelo fato de serem árvores ou palmeiras ainda muito jovens. Recentemente foram identificadas cinco mudas de “Ubussú”, Manicaria saccifera, uma palmeira amazônica cujas folhas chegam a até oito metros de comprimento. Os sombrais abrigam também, agora com 30cm, quatorze Ceroxylon qüindiuensis, que é a mais alta de todas as palmeiras, planta nacional da Colômbia e que atinge 70 metros. Deverão futuramente ser plantadas no Sítio ou respeitaremos apenas o aspecto-jardim-histórico dele? Creio que a resposta é óbvia.
2. O Parecer Delphim desconsidera a inexcedível diferença que existe entre o inanimado e o vivente ao pretender transpor literalmente conceitos e práticas de preservação de patrimônios arquitetônicos e artísticos para o patrimônio paisagístico, botânico e natural. De fato ele afirma na página 8 que “Os jardins não diferem de nenhum outro bem cultural no que se refere às condições de manutenção”. Por assim considerar, infere que a burocracia empregada para controlar mudanças num tipo de patrimônio pode surtir efeito noutro, e defende seu emprego irrestrito quando, na verdade, ela pode liqüidá-lo. Quando comecei, em 1995, a dirigir o SRBM, inúmeras plantas invasoras estavam a ocupar os espaços, bloqueando as vistas, e transformando num impenetrável matagal o que deveria ser “a natureza ordenada pelo homem e para o homem”, como dizia Roberto. Isso se deveu ao fato de que ele, homem de múltiplas atividades nacionais e internacionais, além de problemas sérios de visão, enfrentou meses de enfermidade em que não pode dar atenção ao Sítio. Esse longo tempo foi seguido de um ano e meio da gestão do Dr. José Tabacow que, residente em Santa Tereza do Espírito Santo, assumiu a direção com o compromisso precípuo de ordenar institucionalmente a casa abalada com o desaparecimento do mestre. Cumprida esta difícil missão, só podendo dispor de dois dias, entre viagens, por semana em média, José pediu afastamento, mas somando os dois períodos, o Sítio foi inevitavelmente superlotado por nativas oportunistas, das quais algumas já haviam atingido porte arbóreo. Isso sem contar os remanescentes de viveiros cujas mudas perfuraram seus recipientes e cresceram, adensando-se de forma desmesurada. A suposição da necessidade de consultas formais com abertura de processos para realizar intervenções que se impunham rotineiras, aliado ao medo de tocar em seres vivos que erroneamente alguns pensavam terem sido plantado “pelas próprias mãos de Roberto” só fortaleceram a inércia e, conseqüentemente, a tendência caótica natural. Para recuperar a ordem e restabelecer as perspectivas insubstituíveis dos jardins, uma vigorosa atividade de nosso exíguo corpo de jardineiros foi, então, absolutamente necessária e ainda o é em alguns pontos, além dos que, incessantemente, são invadidos por vegetação espontânea. Tal recuperação é totalmente incompatível com a morosa burocracia, peculiar aos processos que envolvem tipos estáticos e abióticos de patrimônio.
3. O Parecer Delphim é contraditório em seus próprios termos:
a) ao afirmar na página 7 que “...muitos profissionais tendem a substituir os rigorosos critérios de intervenção...” e, na página 1, que “...a definição de normas para (intervenções em) jardins tropicais é tarefa pioneira, sem literatura para consulta, sem modelos para orientação.” Ora, como podem existir critérios rigorosos que ao mesmo tempo são inéditos, nebulosos ou experimentais?
b) ao afirmar na página 8 que — “Têm-se que descartar qualquer simulação de intimidade com um espírito criador sob pretexto de intervir em sua obra.” — enquanto na página 7 supõe que — “O extremo dinamismo da obra de Burle-Marx corresponde à inquietude de seu espírito. O gênio é imprevisível... o gênio nunca sabe com precisão e clareza o que pretende ao iniciar o ato de criação. Nada tem em mente pois o que determina sua ação parte de fonte do inconsciente. Faz apenas o que impulsos profundos determinam...”.— Além da contradição entre estas frases (muita intimidade, de fato, seria necessária para se saber com essa precisão o que se passa na mente do gênio), se é que RBM agia assim, ele reservou essa forma proceder para algumas de suas pinturas, desenhos ou esculturas. Considero entretanto inaceitáveis generalizações do tipo “nada tem em mente” ou “o gênio nunca sabe com precisão e clareza o que pretende”. Muitas vezes Roberto via algo – uma estrutura de sustentação de outdoors ou o sistema radicular aéreo de uma planta, por exemplo, e dizia “— Quero fazer um desenho com estes ritmos etc. etc.”. Neste caso, o processo era invertido: algo do mundo material, mesmo estranho à arte da composição, sugeria uma possibilidade de expressão artística, um resultado a ser perseguido, que poderia materializar-se num desenho, escultura, pintura, ou painel. Entretanto, no caso específico de paisagismo, esse não era definitivamente seu modus operandi. Roberto propalava o respeito às leis da natureza e às funções específicas que cada programa demanda tendo em vista as necessidades, conforto e comportamentos dos usuários do jardim ou parque por ele criado. Nos projetos paisagísticos RBM fazia questão de explicar o porquê de cada equipamento, material ou tipo de vegetação utilizado. Tudo isso de forma o mais consciente possível e se alguém de sua equipe argumentava, com lógica mais acurada em determinado item, sugerindo solução diferente, ele a acatava, valorizando a observação do colaborador. E não digo isto “sob pretexto de” ou como motivo para intervir em sua obra, pois já os tenho como obrigação por me encontrar momentaneamente na posição de diretor do Sítio, mas apenas a bem da verdade e para fazer justiça, tanto a seus inúmeros colaboradores, quanto às virtudes de desprendimento nos atos da criação, prática democrática nos trabalhos em equipe e honestidade intelectual de Roberto Burle Marx.
c) Ao afirmar na página 2 que — “Sob um ponto de vista técnico, em um órgão com um quadro de recursos humanos tão reduzido quanto é o IPHAN, pode-se considerar que, de uma forma geral e não aprofundada somos todos especialistas em preservação do patrimônio cultural.” Aí está um paradoxo. Visto que os especialistas são justamente aqueles que se aprofundam, não faz sentido sustentar que de forma não aprofundada somos especialistas. Mais errado ainda é usar este absurdo como desculpa e para qualificar pessoas (no caso, a bibliotecária Zulmira Pope) que, desconhecendo o assunto específico em questão, se arvoram a fazer denúncias técnicas — prática que é, e sempre será, injusta para com um colega e contraproducente para qualquer instituição. E admitir tal prática significa condenar todo o histórico esforço do IPHAN, ao longo de sua existência, de constituir e consolidar quadros técnicos competentes em suas especialidades.
4. O Parecer Delphim está desinformado quanto a:
a) Durante minha gestão, excetuando as que morreram ou estavam irremediavelmente comprometidas por alguma praga ou doença, árvore alguma do Sitio, foi retirada de áreas que pudessem ser classificadas como obra de paisagismo de RBM ou jardim histórico e, mais, árvore alguma pertencente ao acervo natural, botânico ou paisagístico foi derrubada em qualquer parte do Sítio. Os espécimens erradicados eram invasores, clandestinos, indesejáveis e não plantados ou apropriados por RBM, sendo além disso, prejudiciais a espécimes importantes do acervo ou a algum aspecto didático do Sítio.
b) Na página 2 há uma inversão. Não fui eu que não quem — “... não deu ouvidos aos argumentos em defesa da vegetação”. — da Sra. Zulmira Pope, mas sim, foi ela que, não quis ouvir os esclarecimentos quanto à forma de tratamento do acervo natural botânico e paisagístico adotada no SRBM. Se alguém ainda puder considerar que os argumentos dela eram “em defesa da vegetação”, não o eram, absolutamente, em defesa dos jardins do Sítio, ou mesmo da vegetação que autenticamente pertence ao Sítio. Ela também recusou-se a considerar explicações técnicas do conselheiro José Tabacow, então presidente do Conselho, paisagista e ex-sócio de Roberto Burle Marx, que lhe respondeu a uma carta-denúncia justificando tecnicamente todos os atos de manutenção da coleção botânica e dos jardins. A bibliotecária Zulmira Pope, ainda, me ameaçou brandindo a lei ambiental que não se aplica a coleções botânicas, pois proíbe a retirada de plantas nativas, mesmo em formação. Considerando que quase todas as plantas pioneiras e invasoras são nativas, se isso tivesse sido acatado, em lugar de jardim histórico, teríamos uma selva no SRBM hoje. E ela não foi transferida imediatamente. Permaneceu no Sítio ainda mais de um ano, sendo finalmente transferida, também por outros motivos, expostos no Memorando 070/2000/SRBM/IPHAN, aceito sem qualquer contestação por mais altas instâncias do IPHAN.
c) Na página 26 há uma afirmação desatualizada: Embora contrário a planos de manejo para áreas dotadas de Conselhos, e por outras razões expostas em artigo publicado na “Folha”, periódico editado pela Sociedade dos Amigos de Roberto Burle Marx elaborei posteriormente, a pedido da então diretora do DEPROT, Sra. Louise Ritzel, as Diretrizes (nome que considero mais apropriado do que Plano de Manejo) para o Tratamento do Acervo Natural Botânico e Paisagístico do SRBM, em novembro de 2000. Estas Diretrizes constam do artigo “O Tombamento do SRBM” já mencionado. São regras gerais que contornam os problemas de delimitar o indelimitável, enumerar o inumerável, e que não pretendem abarcar e normatizar o universo das decisões possíveis, mas incluem, consideram, aproveitam e apóiam os sujeitos dessas decisões, especificando suas competências. Elas dotam o SRBM de instrumento controlador que permite o trabalho dos diretores sem sobrecarregá-los com burocracias engessadoras e induz o Conselho do SRBM a fiscalizar o Sítio, ao mesmo tempo em que lhe reafirma a capacidade de substituir qualquer diretor no momento em que este não mais atender à sua expectativa, equilibrando assim os poderes de decisão, sem tornar difusa a responsabilidade pela manutenção do inestimável acervo legado por RBM.
5. O Parecer Delphim é impreciso quando determina, na página 10, que: —“Naturalmente, as atividades rotineiras de manutenção dispensam a consulta à superintendência regional, porém ações extraordinárias e drásticas como derrubada de vegetação não podem ser executadas sem consulta ao IPHAN.” O problema, nesse aspecto, envolve exatamente a delimitação do indelimitável, entre o que vai ser considerado atividade rotineira e o que não vai. Que porte de um vegetal será considerado o limite? Quão doente tem que estar uma árvore para poder ser cortada sem a formalização de procedimentos administrativos que envolvam unidades diferentes do IPHAN? Alguém tem que ser encarregado de decidir isso. Tenho consultado o DEPROT e a 6ªSR toda vez em que proponho algum plano maior, como a Reestruturação dos Sombrais, o Parque Roberto Burle Marx ou a Ampliação da Capacidade Hídrica do Sítio. São planos para médio e longo prazo, mas nas matérias urgentes e imediatas, em que, além disso, os maiores especialistas somos nós, consultar pessoas alheias ao assunto torna-se dolorosamente ilógico.
6. O Parecer Delphim reserva para si próprio, ao mesmo tempo em que nega ao presente e futuros diretores do Sítio Roberto Burle Marx/IPHAN, a capacidade ou possibilidade de “ser IPHAN”, ou pelo menos de “estar IPHAN”. Na página 9 sustenta que: — “... a preservação do patrimônio é prerrogativa exclusiva do IPHAN.” — Se a interpretação vigente da lei é a de que as Superintendências Regionais são os órgãos responsáveis pelo patrimônio também dentro das Unidades Especiais, então que diferença há entre o patrimônio das Unidades e o resto do patrimônio que está disperso pela Região? Existe um diretor, em cada uma dessas Unidades, que representa o IPHAN pela decisão de seu presidente, e que, sem dúvida, é o maior conhecedor do patrimônio que está sob sua administração. Não é interessante para o IPHAN um pleonasmo autoritário pesando sobre cada Museu. A mesma lei, que atribui o poder de controle das intervenções no patrimônio às SRs, não as impede de delegar internamente esse poder aos diretores das Unidades, o que seria mais inteligente e mais coerente. Se encontrarmos no Sítio uma Johannesteijsmannia altifrons sendo fisicamente prejudicada pela proximidade de uma Guarea trichilioides e quisermos aprovação dos técnicos da 6ª SR para solucionar o problema, primeiro teremos que explicar o que são tão estranhos elementos e, em seguida, porque um deles é, no contexto, mais importante que o outro e porque o sacrifício deste outro (o que quase nunca é aceito por leigos) é ecológica e ambientalmente irrelevante. Então, depois de enviar um memorando acompanhado de exaustivas fotografias e aguardar a visita do técnico (que antes terá que solicitar uma viatura com gasolina para uma viagem de 140km), torcer para que ele concorde com a solução que nossos técnicos já encontraram semanas ou meses antes. Em se tratando de patrimônio arquitetônico ou artístico, essas ocorrências são raras e justificar-se-ia o dispendioso procedimento. Já no nosso caso, no que toca ao acervo natural, botânico e paisagístico, raras são as semanas em que não temos que solucionar questões semelhantes. A burocracia tornar-se-ia insustentável, além de impraticável. Não é muito melhor confiar nos diretores das Unidades Especiais e aceitar o fato que eles provavelmente vão encontrar soluções melhores com seus Conselhos e seus técnicos do que com outros já regionalmente sobrecarregados? Não é muito melhor admitir que os diretores (principalmente sabendo que eles vão ter que pagar por algo de errado que fizerem sozinhos) são capazes de decidir em que casos devem procurar as SRs para com elas repartir responsabilidade pelas decisões? Por todos esses motivos, proponho parar com a disputa pela demarcação territorial de poder dentro das Unidades Especiais e Museus do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
7. o Parecer Delphim atual desdiz, com prudente ambigüidade, o Laudo de Vistoria Delphim de 1999 (baseado no que me foi informado no Memorando 283/99/Gab/DEPROT da então diretora Márcia Sant’Anna). Como resultado daquela inspeção, apurou-se que: “...as intervenções de manejo efetuadas no Sítio Roberto Burle Marx foram consideradas corretas”. Espanta-me que, três anos depois, o autor possa ter flexibilizado tanto a própria opinião, só por informações de terceiros, sem realizar pessoalmente uma única visita nesse ínterim. Aliás, a maioria das pessoas que se intitulam “preocupadas com o SRBM” o faz por informações de terceiros que, por sua vez, ouviram falar.... Não era de se esperar que o técnico encarregado do IPHAN para a área, embarcasse também nessa “opinião de orelhada”. Salvaguarda-se ele ao dizer que elaborou o Laudo de Vistoria em 1999 apenas “a julgar pelo que me fora mostrado pelo Sr. Robério Dias”. Não seria o caso de fazer então uma vistoria “completa” por conta própria antes de incluir no parecer atual frases como: “Administrar o Sítio Burle-Marx não é exercer os conhecimentos de criar jardins” (como se eu estivesse fazendo isto) ou “Parece que a Direção do Sítio Burle-Marx preferiu dar ouvidos ao Conselho do Sítio. Este deve ser consultado no que é de sua competência contudo a preservação do patrimônio é prerrogativa do IPHAN”. Há muita confusão neste trecho. Esclareço: O Conselho foi instituído por Roberto Burle Marx com alguns dos maiores botânicos e paisagistas brasileiros, que além disso eram especialistas em Sítio Roberto Burle Marx, e pessoas eminentes da área da cultura, dentre as quais, como membro nato, o próprio presidente do IPHAN, para auxiliar o Diretor (que, por sua vez, tem que ser ou estar IPHAN), em qualquer das dificuldades da direção. Se uma das dificuldades do diretor for algum aspecto do tratamento do acervo, então isso, automaticamente, será da competência do Conselho. Não entendo a preferência pela exclusão (em lugar de uma entusiástica inclusão) do Conselho do SRBM da engrenagem da preservação do patrimônio. Com base em quê (excetuando-se uma estreita interpretação da lei) pode o Parecer Delphim acreditar que um plano de manejo elaborado por técnicos da 6ªSR “... assegura, até à própria direção, segurança no cumprimento de suas atribuições ”, melhor do que as Diretrizes elaboradas pelo Conselho do Sítio ou melhor do que sua simples aprovação das medidas de tratamento do acervo?
8. O Parecer Delphim tem uma lógica incompreensível ao apresentar, na página 12, como razão para que o Manual de Intervenções em Jardins Históricos, de sua própria autoria, seja indispensavelmente “tomado como referência básica e orientação para as intervenções a serem doravante executadas no Sítio Burle-Marx”, o fato de “... que é o único documento sobre o assunto existente no Brasil e um dos poucos do mundo”. Tal fato pode ser curioso e até elogiável pelo pioneirismo, mas nunca garantia de adequação ao caso do SRBM que requer conhecimento específico e clareza na compreensão de sua natureza, missão e funções. Pelo resumo do mesmo, apresentado ao final do Parecer Delphim, parece-me uma colagem de obviedades e de medidas utópicas que, entretanto, desconsidera a realidade dos fatos relativos ao SRBM e a responsabilidade de sua proteção efetiva. O SRBM, uma das maiores e mais importantes coleções de plantas tropicais no mundo, tem 365.000 m² e 18 jardineiros. Isso significa que cada jardineiro deve cuidar de 20.000 m². É verdade que nem todas as áreas recebem tais cuidados, mas considerando que os funcionários públicos no Brasil trabalham em média 200 dias por ano, a proporção se mantém, equivalendo a cerca de 2,5 campos de futebol oficiais para cada homem, isso em terreno acidentado que começa na cota 5 e termina a 400 m de altitude. Sua equipe técnica é constituída de um paisagista (eu), um biólogo, um advogado que antes era agente de segurança, e um estudante de geografia. Não temos em nosso quadro ao menos um fitopatologista. Essa carência é suprida intermitentemente, por um profissional mantido ora pela Sociedade de Amigos, ora pelo MinC, ora pela boa vontade do próprio fitopatologista, como é o caso no momento. Não pretendo estender o rol das deficiências, pois todos as temos, mas acho que já deu para entender que as cornucópias de levantamentos exaustivos e minuciosos, tanto fotográficos como orais, iconográficos, arquivológicos e bibliográficos, além da identificação e localização de uma infinidade de indivíduos vegetais em constante multiplicação, não podem ser pré-requisitos para o tratamento do acervo. O Manual de Intervenções propõe ainda uma série de projetos como o paisagístico (???) e o de drenagem dentre outros, inúteis, uns e evidentes, outros, cujas prioridades e circunstâncias em vista dos recursos disponíveis, no caso específico do Sítio, o tal Manual não pode definir. Mais adiante sentencia: “Devem-se adotar medidas para a consolidação e proteção de esculturas e outros elementos ornamentais dos jardins contra diversos fatores adversos”. Se é preciso escrever isso, será, por isonomia, necessário relacionar todas as ações que poderão ocorrer num jardim, e tal tarefa, feita com coerência, resultaria num documento, humanamente impossível de ser completado, mas que, de tão extenso, tornar-se-ia inútil na prática. O Manual passa, sem meio termo, de considerações sobre máquinas de cortar grama à produção de mudas por sementes, enveredando pela coleta de lixo numa listagem que tanto é insatisfatória para um bom livreto sobre cada item, como prolixa demais para ter utilidade como documento institucional. A técnica de jardinagem é dominada pelo SRBM, que, de vez em quando a exporta, através de convênios, para escolas técnicas e freqüentemente recebemos operários para estágio nessa área. Não necessitamos de relações incompletas, ainda que extensas, do que pode ou deve ser feito, pois o que serve para uma planta pode ser danoso para outra que só o SRBM, por enquanto, cultiva. Mais interessante seria poder refazer as assinaturas de periódicos técnicos e científicos de Botânica e Horticultura que acompanham, em constante evolução, os cuidados relativos a cada família, gênero ou espécie.
9. Recentemente li uma entrevista muito interessante, dada pelo arquiteto Carlos Delphim ao Jornal da Paisagem, em que cita o duque de Hautcourt e um aspecto bastante desconsiderado na preservação de jardins em geral. Diz o duque, citado e endossado por Delphim: “— O espaço vazio é talvez o elemento mais importante dos jardins e dos parques.” Isso é uma grande verdade, pois sem espaços vazios não pode haver atividade nem, ao menos, visibilidade nas áreas paisagísticas que pretendemos preservar. Roberto Burle Marx dizia algo semelhante e fazia analogia com os jardins, citando um compositor americano (cujo nome me escapa no momento): “ — A música não é composta apenas de notas, mas também do silêncio entre elas.” Com efeito, quando se tomba um jardim, de certa forma, talvez inconsciente, tomba-se também o vazio que o compõe. Acostumadas a preservar o que é sólido e palpável, muitas pessoas se preocupam só com a perda dos elementos materiais. Não se dão conta que, num jardim, a preservação exclusiva dessa classe de entidades pode por a perder todo o conjunto. Lamento que em seu extenso parecer o arquiteto Carlos Delphim não tenha encontrado espaço para incluir tão importante e esquecido princípio e reconhecer o paralelismo que existe entre ele e algumas das medidas que sou forçado a tomar em defesa do patrimônio que está sob minha responsabilidade.
Tais são minhas objeções principais ao Parecer Delphim. Que me perdoe seu autor, fazer tantos reparos, tanto no que disse, como no que deixou de dizer, mas espero que tenha em mente que tratam-se de incorreções em relação ao meu ponto de vista técnico e de que não podemos negligenciar com a manutenção do SRBM cedendo a estereótipos simpáticos ao grande público, porém prejudiciais ao legado de nosso saudoso mestre. Permaneço aberto ao diálogo e disposto a debater e a rever cada posição diante de argumentação procedente, baseada na lógica e nos fatos.
Atenciosamente,
Robério Dias
Diretor
Em primeiro lugar gostaria de informar que, no tempo em que estou na direção do SRBM/IPHAN, raramente uma cópia de parecer sobre o Sítio foi mandada simultaneamente para cá. Quase sempre as obtive praticamente de “contrabando”, depois que já haviam circulado muito tempo em instâncias para mim desconhecidas. Tampouco sei quantos ainda me faltam. Com certeza não tenho o resultante da inspeção feita pelo arquiteto Carlos Delphim no Sítio, em 1999. Apenas, pelo Memorando 283/99/Gab/DEPROT da então diretora Márcia Sant’Anna, fui informado laconicamente que, como resultado daquela inspeção: “...as intervenções de manejo efetuadas no Sítio Roberto Burle Marx foram consideradas corretas”. O parecer atual, datado de 24/10/2002 é o primeiro que recebo em tempo hábil (em 3/12/2002).
Considero essa freqüente exclusão de informações pouco produtiva. Afinal todos estamos preocupados com a preservação, ainda que tenhamos conceitos diferentes e até, talvez, opostos. Embora com riscos de ferir suscetibilidades, a transparência e o franco trânsito das idéias são a forma de contribuir para que mais rápido cheguemos a um consenso, ou pelo menos a um acordo, ou, na pior das hipóteses, a uma definição impositiva.
No caso presente, devo dizer que discordo do parecer em muitos pontos. Para minha surpresa, o autor incorre nos equívocos mais corriqueiros, que apontei de forma geral no artigo “O Tombamento do Sítio Roberto Burle Marx”, elaborado logo após a sessão do Conselho do IPHAN comemorativa do centenário de Gustavo Capanema, em 10/8/2000. Nesta sessão histórica, dentre outras medidas, ficou estabelecido o tombamento do SRBM e que dever-se-ia iniciar uma discussão para definir os procedimentos compatíveis com tão importante ato. Foi precisamente para dar início a esta discussão que escrevi o artigo e o enviei ao Dr. Carlos Heck, presidente do IPHAN, a três de seus conselheiros que protagonizaram o debate naquela sessão, ao DEPROT, à PROJUR e aos conselheiros do Sítio. Não sei se o arquiteto Carlos Delphim o leu, pois disso não deu mostras em seu parecer.
Mas vamos aos pontos de discordância:
1. O Parecer Delphim trata a totalidade das áreas do Sítio como obra de arte de Roberto Burle Marx e, em conseqüência, como um jardim histórico. Essa interpretação não corresponde à realidade, nem é conveniente.
a) Não corresponde à realidade porque há, no Sítio, áreas remanescentes de depósitos de materiais diversos, invasões de plantio de bananeiras, áreas de mata nativa secundária, viveiros de mudas abandonados, etc. e áreas que RBM nunca conheceu, pisou, nem incluiu em planos ou experiências paisagísticas. Estas áreas não podem ser consideradas obra de arte nem jardim, quanto mais histórico. Esse engano, incrustado na base conceitual do Parecer Delphim, contamina suas analogias, eivando-as de inadequação. Por exemplo, na página 8 ele diz: “Os jardins não diferem de nenhum outro bem cultural no que se refere às condições de intervenção. Alguém mandaria mudar uma pintura de Burle-Marx (sic) sob alegação de que ele nunca teria usado uma certa forma ou um certo tom de azul?”. A analogia é imprópria, pois Roberto sempre defendeu que as plantas devem ser plantadas em ambientes compatíveis com sua natureza. Por esta razão, se encontrarmos uma cactácea da caatinga, plantada num canteiro aquático poderemos com certeza afirmar que RBM não faria isso (a não ser que desconhecesse a procedência da planta. Mesmo assim, ao vê-la definhar, rapidamente a tiraria dali). Insistindo no erro, na página 6 o Parecer Delphim sustenta que — “Esses jardins (do Sítio) eram produzidos ao longo do tempo, tendo apenas a criatividade e vontade criadora do autor por orientação.” — e esquece-se das lições ditadas pelo meio ambiente, do respeito aos ecossistemas e às associações naturais, que, despertado pelo botânico Mello Barreto, Roberto procurava seguir e ensinar a seguir.
b) Não é conveniente porque a missão do SRBM é ser um centro de estudos de paisagismo, botânica e conservação da natureza, nessa ordem, segundo seu próprio criador. Roberto doou o Sítio para isto e não para ser transformado num templo de culto ao lado artístico de sua personalidade. Pelo aspecto didático, imposto por respeito à vontade de RBM, deduzimos como necessidade fundamental a atualização. Isso não quer dizer que se vai tocar sem motivo nas áreas que podem ser consideradas como jardim histórico ou obra de arte, mas nas outras, coleções podem e devem ser ampliadas e toda vez que o aspecto didático ou estético de alguma feição do Sítio for prejudicada, deveremos intervir. Por exemplo: uma planta rara, talvez já extinta em seu habitat natural devastado, da qual contávamos com apenas um espécime na coleção, mas que porventura conseguimos multiplicar, deverá ser plantada também em outra área do Sítio para aumentar as probabilidades de sucesso em sua preservação, para testar sua adaptabilidade a outro ambiente, para demonstrar sua aptidão de uso em paisagismo e, enfim, para desafogar os sombrais. O SRBM além de obra de arte é também um laboratório ao ar livre onde se preserva um fazer iniciado por Roberto e que não deve ser estancado sob pena de perda cultural irreparável e amputação da principal função da coleção de plantas. Seria como se o Instituto Oswaldo Cruz, ao ser tombado, tivesse também suas culturas microbianas, coleções científicas, fabricação de vacinas e experiências congeladas. Esse aspecto-função do SRBM, pioneiro no Brasil, nunca é lembrado ou mencionado por quantos até hoje se propuseram a estabelecer suas normas de manutenção. E, no entanto, existem ainda na coleção, acondicionadas em latas provisórias, inúmeras mudas, verdadeiros tesouros vegetais deixados por RBM, à espera do tempo certo para serem plantadas. Algumas destas mudas encontramos sem qualquer indicação de origem, com identificação dificultada pelo fato de serem árvores ou palmeiras ainda muito jovens. Recentemente foram identificadas cinco mudas de “Ubussú”, Manicaria saccifera, uma palmeira amazônica cujas folhas chegam a até oito metros de comprimento. Os sombrais abrigam também, agora com 30cm, quatorze Ceroxylon qüindiuensis, que é a mais alta de todas as palmeiras, planta nacional da Colômbia e que atinge 70 metros. Deverão futuramente ser plantadas no Sítio ou respeitaremos apenas o aspecto-jardim-histórico dele? Creio que a resposta é óbvia.
2. O Parecer Delphim desconsidera a inexcedível diferença que existe entre o inanimado e o vivente ao pretender transpor literalmente conceitos e práticas de preservação de patrimônios arquitetônicos e artísticos para o patrimônio paisagístico, botânico e natural. De fato ele afirma na página 8 que “Os jardins não diferem de nenhum outro bem cultural no que se refere às condições de manutenção”. Por assim considerar, infere que a burocracia empregada para controlar mudanças num tipo de patrimônio pode surtir efeito noutro, e defende seu emprego irrestrito quando, na verdade, ela pode liqüidá-lo. Quando comecei, em 1995, a dirigir o SRBM, inúmeras plantas invasoras estavam a ocupar os espaços, bloqueando as vistas, e transformando num impenetrável matagal o que deveria ser “a natureza ordenada pelo homem e para o homem”, como dizia Roberto. Isso se deveu ao fato de que ele, homem de múltiplas atividades nacionais e internacionais, além de problemas sérios de visão, enfrentou meses de enfermidade em que não pode dar atenção ao Sítio. Esse longo tempo foi seguido de um ano e meio da gestão do Dr. José Tabacow que, residente em Santa Tereza do Espírito Santo, assumiu a direção com o compromisso precípuo de ordenar institucionalmente a casa abalada com o desaparecimento do mestre. Cumprida esta difícil missão, só podendo dispor de dois dias, entre viagens, por semana em média, José pediu afastamento, mas somando os dois períodos, o Sítio foi inevitavelmente superlotado por nativas oportunistas, das quais algumas já haviam atingido porte arbóreo. Isso sem contar os remanescentes de viveiros cujas mudas perfuraram seus recipientes e cresceram, adensando-se de forma desmesurada. A suposição da necessidade de consultas formais com abertura de processos para realizar intervenções que se impunham rotineiras, aliado ao medo de tocar em seres vivos que erroneamente alguns pensavam terem sido plantado “pelas próprias mãos de Roberto” só fortaleceram a inércia e, conseqüentemente, a tendência caótica natural. Para recuperar a ordem e restabelecer as perspectivas insubstituíveis dos jardins, uma vigorosa atividade de nosso exíguo corpo de jardineiros foi, então, absolutamente necessária e ainda o é em alguns pontos, além dos que, incessantemente, são invadidos por vegetação espontânea. Tal recuperação é totalmente incompatível com a morosa burocracia, peculiar aos processos que envolvem tipos estáticos e abióticos de patrimônio.
3. O Parecer Delphim é contraditório em seus próprios termos:
a) ao afirmar na página 7 que “...muitos profissionais tendem a substituir os rigorosos critérios de intervenção...” e, na página 1, que “...a definição de normas para (intervenções em) jardins tropicais é tarefa pioneira, sem literatura para consulta, sem modelos para orientação.” Ora, como podem existir critérios rigorosos que ao mesmo tempo são inéditos, nebulosos ou experimentais?
b) ao afirmar na página 8 que — “Têm-se que descartar qualquer simulação de intimidade com um espírito criador sob pretexto de intervir em sua obra.” — enquanto na página 7 supõe que — “O extremo dinamismo da obra de Burle-Marx corresponde à inquietude de seu espírito. O gênio é imprevisível... o gênio nunca sabe com precisão e clareza o que pretende ao iniciar o ato de criação. Nada tem em mente pois o que determina sua ação parte de fonte do inconsciente. Faz apenas o que impulsos profundos determinam...”.— Além da contradição entre estas frases (muita intimidade, de fato, seria necessária para se saber com essa precisão o que se passa na mente do gênio), se é que RBM agia assim, ele reservou essa forma proceder para algumas de suas pinturas, desenhos ou esculturas. Considero entretanto inaceitáveis generalizações do tipo “nada tem em mente” ou “o gênio nunca sabe com precisão e clareza o que pretende”. Muitas vezes Roberto via algo – uma estrutura de sustentação de outdoors ou o sistema radicular aéreo de uma planta, por exemplo, e dizia “— Quero fazer um desenho com estes ritmos etc. etc.”. Neste caso, o processo era invertido: algo do mundo material, mesmo estranho à arte da composição, sugeria uma possibilidade de expressão artística, um resultado a ser perseguido, que poderia materializar-se num desenho, escultura, pintura, ou painel. Entretanto, no caso específico de paisagismo, esse não era definitivamente seu modus operandi. Roberto propalava o respeito às leis da natureza e às funções específicas que cada programa demanda tendo em vista as necessidades, conforto e comportamentos dos usuários do jardim ou parque por ele criado. Nos projetos paisagísticos RBM fazia questão de explicar o porquê de cada equipamento, material ou tipo de vegetação utilizado. Tudo isso de forma o mais consciente possível e se alguém de sua equipe argumentava, com lógica mais acurada em determinado item, sugerindo solução diferente, ele a acatava, valorizando a observação do colaborador. E não digo isto “sob pretexto de” ou como motivo para intervir em sua obra, pois já os tenho como obrigação por me encontrar momentaneamente na posição de diretor do Sítio, mas apenas a bem da verdade e para fazer justiça, tanto a seus inúmeros colaboradores, quanto às virtudes de desprendimento nos atos da criação, prática democrática nos trabalhos em equipe e honestidade intelectual de Roberto Burle Marx.
c) Ao afirmar na página 2 que — “Sob um ponto de vista técnico, em um órgão com um quadro de recursos humanos tão reduzido quanto é o IPHAN, pode-se considerar que, de uma forma geral e não aprofundada somos todos especialistas em preservação do patrimônio cultural.” Aí está um paradoxo. Visto que os especialistas são justamente aqueles que se aprofundam, não faz sentido sustentar que de forma não aprofundada somos especialistas. Mais errado ainda é usar este absurdo como desculpa e para qualificar pessoas (no caso, a bibliotecária Zulmira Pope) que, desconhecendo o assunto específico em questão, se arvoram a fazer denúncias técnicas — prática que é, e sempre será, injusta para com um colega e contraproducente para qualquer instituição. E admitir tal prática significa condenar todo o histórico esforço do IPHAN, ao longo de sua existência, de constituir e consolidar quadros técnicos competentes em suas especialidades.
4. O Parecer Delphim está desinformado quanto a:
a) Durante minha gestão, excetuando as que morreram ou estavam irremediavelmente comprometidas por alguma praga ou doença, árvore alguma do Sitio, foi retirada de áreas que pudessem ser classificadas como obra de paisagismo de RBM ou jardim histórico e, mais, árvore alguma pertencente ao acervo natural, botânico ou paisagístico foi derrubada em qualquer parte do Sítio. Os espécimens erradicados eram invasores, clandestinos, indesejáveis e não plantados ou apropriados por RBM, sendo além disso, prejudiciais a espécimes importantes do acervo ou a algum aspecto didático do Sítio.
b) Na página 2 há uma inversão. Não fui eu que não quem — “... não deu ouvidos aos argumentos em defesa da vegetação”. — da Sra. Zulmira Pope, mas sim, foi ela que, não quis ouvir os esclarecimentos quanto à forma de tratamento do acervo natural botânico e paisagístico adotada no SRBM. Se alguém ainda puder considerar que os argumentos dela eram “em defesa da vegetação”, não o eram, absolutamente, em defesa dos jardins do Sítio, ou mesmo da vegetação que autenticamente pertence ao Sítio. Ela também recusou-se a considerar explicações técnicas do conselheiro José Tabacow, então presidente do Conselho, paisagista e ex-sócio de Roberto Burle Marx, que lhe respondeu a uma carta-denúncia justificando tecnicamente todos os atos de manutenção da coleção botânica e dos jardins. A bibliotecária Zulmira Pope, ainda, me ameaçou brandindo a lei ambiental que não se aplica a coleções botânicas, pois proíbe a retirada de plantas nativas, mesmo em formação. Considerando que quase todas as plantas pioneiras e invasoras são nativas, se isso tivesse sido acatado, em lugar de jardim histórico, teríamos uma selva no SRBM hoje. E ela não foi transferida imediatamente. Permaneceu no Sítio ainda mais de um ano, sendo finalmente transferida, também por outros motivos, expostos no Memorando 070/2000/SRBM/IPHAN, aceito sem qualquer contestação por mais altas instâncias do IPHAN.
c) Na página 26 há uma afirmação desatualizada: Embora contrário a planos de manejo para áreas dotadas de Conselhos, e por outras razões expostas em artigo publicado na “Folha”, periódico editado pela Sociedade dos Amigos de Roberto Burle Marx elaborei posteriormente, a pedido da então diretora do DEPROT, Sra. Louise Ritzel, as Diretrizes (nome que considero mais apropriado do que Plano de Manejo) para o Tratamento do Acervo Natural Botânico e Paisagístico do SRBM, em novembro de 2000. Estas Diretrizes constam do artigo “O Tombamento do SRBM” já mencionado. São regras gerais que contornam os problemas de delimitar o indelimitável, enumerar o inumerável, e que não pretendem abarcar e normatizar o universo das decisões possíveis, mas incluem, consideram, aproveitam e apóiam os sujeitos dessas decisões, especificando suas competências. Elas dotam o SRBM de instrumento controlador que permite o trabalho dos diretores sem sobrecarregá-los com burocracias engessadoras e induz o Conselho do SRBM a fiscalizar o Sítio, ao mesmo tempo em que lhe reafirma a capacidade de substituir qualquer diretor no momento em que este não mais atender à sua expectativa, equilibrando assim os poderes de decisão, sem tornar difusa a responsabilidade pela manutenção do inestimável acervo legado por RBM.
5. O Parecer Delphim é impreciso quando determina, na página 10, que: —“Naturalmente, as atividades rotineiras de manutenção dispensam a consulta à superintendência regional, porém ações extraordinárias e drásticas como derrubada de vegetação não podem ser executadas sem consulta ao IPHAN.” O problema, nesse aspecto, envolve exatamente a delimitação do indelimitável, entre o que vai ser considerado atividade rotineira e o que não vai. Que porte de um vegetal será considerado o limite? Quão doente tem que estar uma árvore para poder ser cortada sem a formalização de procedimentos administrativos que envolvam unidades diferentes do IPHAN? Alguém tem que ser encarregado de decidir isso. Tenho consultado o DEPROT e a 6ªSR toda vez em que proponho algum plano maior, como a Reestruturação dos Sombrais, o Parque Roberto Burle Marx ou a Ampliação da Capacidade Hídrica do Sítio. São planos para médio e longo prazo, mas nas matérias urgentes e imediatas, em que, além disso, os maiores especialistas somos nós, consultar pessoas alheias ao assunto torna-se dolorosamente ilógico.
6. O Parecer Delphim reserva para si próprio, ao mesmo tempo em que nega ao presente e futuros diretores do Sítio Roberto Burle Marx/IPHAN, a capacidade ou possibilidade de “ser IPHAN”, ou pelo menos de “estar IPHAN”. Na página 9 sustenta que: — “... a preservação do patrimônio é prerrogativa exclusiva do IPHAN.” — Se a interpretação vigente da lei é a de que as Superintendências Regionais são os órgãos responsáveis pelo patrimônio também dentro das Unidades Especiais, então que diferença há entre o patrimônio das Unidades e o resto do patrimônio que está disperso pela Região? Existe um diretor, em cada uma dessas Unidades, que representa o IPHAN pela decisão de seu presidente, e que, sem dúvida, é o maior conhecedor do patrimônio que está sob sua administração. Não é interessante para o IPHAN um pleonasmo autoritário pesando sobre cada Museu. A mesma lei, que atribui o poder de controle das intervenções no patrimônio às SRs, não as impede de delegar internamente esse poder aos diretores das Unidades, o que seria mais inteligente e mais coerente. Se encontrarmos no Sítio uma Johannesteijsmannia altifrons sendo fisicamente prejudicada pela proximidade de uma Guarea trichilioides e quisermos aprovação dos técnicos da 6ª SR para solucionar o problema, primeiro teremos que explicar o que são tão estranhos elementos e, em seguida, porque um deles é, no contexto, mais importante que o outro e porque o sacrifício deste outro (o que quase nunca é aceito por leigos) é ecológica e ambientalmente irrelevante. Então, depois de enviar um memorando acompanhado de exaustivas fotografias e aguardar a visita do técnico (que antes terá que solicitar uma viatura com gasolina para uma viagem de 140km), torcer para que ele concorde com a solução que nossos técnicos já encontraram semanas ou meses antes. Em se tratando de patrimônio arquitetônico ou artístico, essas ocorrências são raras e justificar-se-ia o dispendioso procedimento. Já no nosso caso, no que toca ao acervo natural, botânico e paisagístico, raras são as semanas em que não temos que solucionar questões semelhantes. A burocracia tornar-se-ia insustentável, além de impraticável. Não é muito melhor confiar nos diretores das Unidades Especiais e aceitar o fato que eles provavelmente vão encontrar soluções melhores com seus Conselhos e seus técnicos do que com outros já regionalmente sobrecarregados? Não é muito melhor admitir que os diretores (principalmente sabendo que eles vão ter que pagar por algo de errado que fizerem sozinhos) são capazes de decidir em que casos devem procurar as SRs para com elas repartir responsabilidade pelas decisões? Por todos esses motivos, proponho parar com a disputa pela demarcação territorial de poder dentro das Unidades Especiais e Museus do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
7. o Parecer Delphim atual desdiz, com prudente ambigüidade, o Laudo de Vistoria Delphim de 1999 (baseado no que me foi informado no Memorando 283/99/Gab/DEPROT da então diretora Márcia Sant’Anna). Como resultado daquela inspeção, apurou-se que: “...as intervenções de manejo efetuadas no Sítio Roberto Burle Marx foram consideradas corretas”. Espanta-me que, três anos depois, o autor possa ter flexibilizado tanto a própria opinião, só por informações de terceiros, sem realizar pessoalmente uma única visita nesse ínterim. Aliás, a maioria das pessoas que se intitulam “preocupadas com o SRBM” o faz por informações de terceiros que, por sua vez, ouviram falar.... Não era de se esperar que o técnico encarregado do IPHAN para a área, embarcasse também nessa “opinião de orelhada”. Salvaguarda-se ele ao dizer que elaborou o Laudo de Vistoria em 1999 apenas “a julgar pelo que me fora mostrado pelo Sr. Robério Dias”. Não seria o caso de fazer então uma vistoria “completa” por conta própria antes de incluir no parecer atual frases como: “Administrar o Sítio Burle-Marx não é exercer os conhecimentos de criar jardins” (como se eu estivesse fazendo isto) ou “Parece que a Direção do Sítio Burle-Marx preferiu dar ouvidos ao Conselho do Sítio. Este deve ser consultado no que é de sua competência contudo a preservação do patrimônio é prerrogativa do IPHAN”. Há muita confusão neste trecho. Esclareço: O Conselho foi instituído por Roberto Burle Marx com alguns dos maiores botânicos e paisagistas brasileiros, que além disso eram especialistas em Sítio Roberto Burle Marx, e pessoas eminentes da área da cultura, dentre as quais, como membro nato, o próprio presidente do IPHAN, para auxiliar o Diretor (que, por sua vez, tem que ser ou estar IPHAN), em qualquer das dificuldades da direção. Se uma das dificuldades do diretor for algum aspecto do tratamento do acervo, então isso, automaticamente, será da competência do Conselho. Não entendo a preferência pela exclusão (em lugar de uma entusiástica inclusão) do Conselho do SRBM da engrenagem da preservação do patrimônio. Com base em quê (excetuando-se uma estreita interpretação da lei) pode o Parecer Delphim acreditar que um plano de manejo elaborado por técnicos da 6ªSR “... assegura, até à própria direção, segurança no cumprimento de suas atribuições ”, melhor do que as Diretrizes elaboradas pelo Conselho do Sítio ou melhor do que sua simples aprovação das medidas de tratamento do acervo?
8. O Parecer Delphim tem uma lógica incompreensível ao apresentar, na página 12, como razão para que o Manual de Intervenções em Jardins Históricos, de sua própria autoria, seja indispensavelmente “tomado como referência básica e orientação para as intervenções a serem doravante executadas no Sítio Burle-Marx”, o fato de “... que é o único documento sobre o assunto existente no Brasil e um dos poucos do mundo”. Tal fato pode ser curioso e até elogiável pelo pioneirismo, mas nunca garantia de adequação ao caso do SRBM que requer conhecimento específico e clareza na compreensão de sua natureza, missão e funções. Pelo resumo do mesmo, apresentado ao final do Parecer Delphim, parece-me uma colagem de obviedades e de medidas utópicas que, entretanto, desconsidera a realidade dos fatos relativos ao SRBM e a responsabilidade de sua proteção efetiva. O SRBM, uma das maiores e mais importantes coleções de plantas tropicais no mundo, tem 365.000 m² e 18 jardineiros. Isso significa que cada jardineiro deve cuidar de 20.000 m². É verdade que nem todas as áreas recebem tais cuidados, mas considerando que os funcionários públicos no Brasil trabalham em média 200 dias por ano, a proporção se mantém, equivalendo a cerca de 2,5 campos de futebol oficiais para cada homem, isso em terreno acidentado que começa na cota 5 e termina a 400 m de altitude. Sua equipe técnica é constituída de um paisagista (eu), um biólogo, um advogado que antes era agente de segurança, e um estudante de geografia. Não temos em nosso quadro ao menos um fitopatologista. Essa carência é suprida intermitentemente, por um profissional mantido ora pela Sociedade de Amigos, ora pelo MinC, ora pela boa vontade do próprio fitopatologista, como é o caso no momento. Não pretendo estender o rol das deficiências, pois todos as temos, mas acho que já deu para entender que as cornucópias de levantamentos exaustivos e minuciosos, tanto fotográficos como orais, iconográficos, arquivológicos e bibliográficos, além da identificação e localização de uma infinidade de indivíduos vegetais em constante multiplicação, não podem ser pré-requisitos para o tratamento do acervo. O Manual de Intervenções propõe ainda uma série de projetos como o paisagístico (???) e o de drenagem dentre outros, inúteis, uns e evidentes, outros, cujas prioridades e circunstâncias em vista dos recursos disponíveis, no caso específico do Sítio, o tal Manual não pode definir. Mais adiante sentencia: “Devem-se adotar medidas para a consolidação e proteção de esculturas e outros elementos ornamentais dos jardins contra diversos fatores adversos”. Se é preciso escrever isso, será, por isonomia, necessário relacionar todas as ações que poderão ocorrer num jardim, e tal tarefa, feita com coerência, resultaria num documento, humanamente impossível de ser completado, mas que, de tão extenso, tornar-se-ia inútil na prática. O Manual passa, sem meio termo, de considerações sobre máquinas de cortar grama à produção de mudas por sementes, enveredando pela coleta de lixo numa listagem que tanto é insatisfatória para um bom livreto sobre cada item, como prolixa demais para ter utilidade como documento institucional. A técnica de jardinagem é dominada pelo SRBM, que, de vez em quando a exporta, através de convênios, para escolas técnicas e freqüentemente recebemos operários para estágio nessa área. Não necessitamos de relações incompletas, ainda que extensas, do que pode ou deve ser feito, pois o que serve para uma planta pode ser danoso para outra que só o SRBM, por enquanto, cultiva. Mais interessante seria poder refazer as assinaturas de periódicos técnicos e científicos de Botânica e Horticultura que acompanham, em constante evolução, os cuidados relativos a cada família, gênero ou espécie.
9. Recentemente li uma entrevista muito interessante, dada pelo arquiteto Carlos Delphim ao Jornal da Paisagem, em que cita o duque de Hautcourt e um aspecto bastante desconsiderado na preservação de jardins em geral. Diz o duque, citado e endossado por Delphim: “— O espaço vazio é talvez o elemento mais importante dos jardins e dos parques.” Isso é uma grande verdade, pois sem espaços vazios não pode haver atividade nem, ao menos, visibilidade nas áreas paisagísticas que pretendemos preservar. Roberto Burle Marx dizia algo semelhante e fazia analogia com os jardins, citando um compositor americano (cujo nome me escapa no momento): “ — A música não é composta apenas de notas, mas também do silêncio entre elas.” Com efeito, quando se tomba um jardim, de certa forma, talvez inconsciente, tomba-se também o vazio que o compõe. Acostumadas a preservar o que é sólido e palpável, muitas pessoas se preocupam só com a perda dos elementos materiais. Não se dão conta que, num jardim, a preservação exclusiva dessa classe de entidades pode por a perder todo o conjunto. Lamento que em seu extenso parecer o arquiteto Carlos Delphim não tenha encontrado espaço para incluir tão importante e esquecido princípio e reconhecer o paralelismo que existe entre ele e algumas das medidas que sou forçado a tomar em defesa do patrimônio que está sob minha responsabilidade.
Tais são minhas objeções principais ao Parecer Delphim. Que me perdoe seu autor, fazer tantos reparos, tanto no que disse, como no que deixou de dizer, mas espero que tenha em mente que tratam-se de incorreções em relação ao meu ponto de vista técnico e de que não podemos negligenciar com a manutenção do SRBM cedendo a estereótipos simpáticos ao grande público, porém prejudiciais ao legado de nosso saudoso mestre. Permaneço aberto ao diálogo e disposto a debater e a rever cada posição diante de argumentação procedente, baseada na lógica e nos fatos.
Atenciosamente,
Robério Dias
Diretor
Plants, South Americans
April 7, 2005
Publicado no livro Plantworlds como capítulo referente à América do Sul
On the day that some of the living beings (or – maybe we could say – almost living beings) found a chemical way to store solar energy for a future and more convenient utilization, the split between vegetal and animal took place. If this occurred inside the mind of God, before (out, above or beyond) the time of creation, or after, during evolution (which requires much more credulity), it is another problem. Anyway, since then, animals – the ones that could not develop the new ability – began to parasitize plants, stealing their portable packed solar energy production, just like the bad men did with the poor farmers in the pictures “Shichinin no Samurai” (Seven Samurai) and “Magnificent Seven”, or grasshoppers with ants in “A Bug’s Life”.
But it is not only food that we take from plants. They are source of inspiration, evidence of physical, chemical and geometrical order, etc.
A plethora of vegetal forms torrentially demands comprehension to our spirits. How many words had to be invented to correspond to stems, leaves, flowers, fruits and seed features? And how many will still be necessary to invent? Did you know that imbricated is a way to put something upon another without covering it completely, like bricks on a wall or petals of a rose? And that thyrsus means a solid composed by two cones united by the basis? And so on… It’s endless.
Plants not merely influence climate, making it bearable. They made the air we breathe!
In South America are all known ambiental climates, including approximately polar climates, and all vegetal answers to these conditionings. From Chile’s deserts, where never rains, to Amazon basin, where rain fails not even one day; from Piauí’s high temperatures to Tierra del Fuego’s ice, all ambients are filled with an unthinkable variety of green shapes. (Well, before we get any farther, let’s agree that an ambient is a place where there is, or can be, life.)
In this continent live the tallest palm tree (Ceroxylon qüindiuensis), the largest bromeliad (Puya chilensis), the biggest leaves in area (Coccoloba grandiflora), and 99% of the Veloziaceae – arborescents lilies, as Karl Friedrich Philipp von Martius called them. The international Bougainvillea, albeit it’s French name (in honor of the ship’s captain that brought it to be baptized by Karl Ludwig Willdenow) is a Rio de Janeiro native. The heliconies that live here are not fragrant, but are extremely colorful, to attract hummingbirds and bees, while, on the contrary, those from other places, being pollinated by bats and moths, do have perfume but no colors. By the way, hummingbirds live only in Americas and below equator exists one (Ensifera ensifera) that has a bill longer than his body in order to suck a precise flower (Passiflora mixta) whose nectar is reached exclusively by him. This extreme example illustrates the link with a flora that in the “Mata Atlântica” (Atlantic forest) has the higher known diversity, considering trees.
South America is a great place for plants, but the fact is that the “green” records are well distributed all over the planet. It looks like, as human beings, plants are champions of the world, each one in his specialty, which may not be known yet.
For this and many other reasons, let’s look at plants with some more attention, gratitude, respect and… attention again.
Publicado no livro Plantworlds como capítulo referente à América do Sul
On the day that some of the living beings (or – maybe we could say – almost living beings) found a chemical way to store solar energy for a future and more convenient utilization, the split between vegetal and animal took place. If this occurred inside the mind of God, before (out, above or beyond) the time of creation, or after, during evolution (which requires much more credulity), it is another problem. Anyway, since then, animals – the ones that could not develop the new ability – began to parasitize plants, stealing their portable packed solar energy production, just like the bad men did with the poor farmers in the pictures “Shichinin no Samurai” (Seven Samurai) and “Magnificent Seven”, or grasshoppers with ants in “A Bug’s Life”.
But it is not only food that we take from plants. They are source of inspiration, evidence of physical, chemical and geometrical order, etc.
A plethora of vegetal forms torrentially demands comprehension to our spirits. How many words had to be invented to correspond to stems, leaves, flowers, fruits and seed features? And how many will still be necessary to invent? Did you know that imbricated is a way to put something upon another without covering it completely, like bricks on a wall or petals of a rose? And that thyrsus means a solid composed by two cones united by the basis? And so on… It’s endless.
Plants not merely influence climate, making it bearable. They made the air we breathe!
In South America are all known ambiental climates, including approximately polar climates, and all vegetal answers to these conditionings. From Chile’s deserts, where never rains, to Amazon basin, where rain fails not even one day; from Piauí’s high temperatures to Tierra del Fuego’s ice, all ambients are filled with an unthinkable variety of green shapes. (Well, before we get any farther, let’s agree that an ambient is a place where there is, or can be, life.)
In this continent live the tallest palm tree (Ceroxylon qüindiuensis), the largest bromeliad (Puya chilensis), the biggest leaves in area (Coccoloba grandiflora), and 99% of the Veloziaceae – arborescents lilies, as Karl Friedrich Philipp von Martius called them. The international Bougainvillea, albeit it’s French name (in honor of the ship’s captain that brought it to be baptized by Karl Ludwig Willdenow) is a Rio de Janeiro native. The heliconies that live here are not fragrant, but are extremely colorful, to attract hummingbirds and bees, while, on the contrary, those from other places, being pollinated by bats and moths, do have perfume but no colors. By the way, hummingbirds live only in Americas and below equator exists one (Ensifera ensifera) that has a bill longer than his body in order to suck a precise flower (Passiflora mixta) whose nectar is reached exclusively by him. This extreme example illustrates the link with a flora that in the “Mata Atlântica” (Atlantic forest) has the higher known diversity, considering trees.
South America is a great place for plants, but the fact is that the “green” records are well distributed all over the planet. It looks like, as human beings, plants are champions of the world, each one in his specialty, which may not be known yet.
For this and many other reasons, let’s look at plants with some more attention, gratitude, respect and… attention again.
Razões corporativas para confusão conceitual.
8/11/08
Creio haver identificado os motivos inconfessáveis de algumas censuras a alguns dos procedimentos obrigatórios de conservação do acervo natural, botânico e paisagístico do SRBM.
Os jardineiros (não todos, é claro) inclinam-se por minimizar seu trabalho, afinal, conforme lhes é dito pelo sindicato, “não ganham pra isso”. Querem também, é lógico, aumentar seus salários, mas sabem que isso é mais difícil, pois no IPHAN, além do direito a aposentadoria integral – um grande privilégio em nossa sociedade – já recebem mais dinheiro do que poderiam ganhar fora dele, como empregados da iniciativa privada.
Os dirigentes sindicais (não todos, é claro) querem parecer necessários aos jardineiros, que os elegem. Por isso posam de defensores indignados com a injustiça da relação muito-trabalho/pouco-salário. Para a política de alguns sindicalistas é bom que os jardineiros os percebam não só como aliados para aumentar os ganhos, mas também como advogados para diminuir suas contrapartidas individuais a esses ganhos, ou seja, para reduzir as tarefas pelas quais são pagos.
Em vista deste quadro de interesses, confundir paisagismo com ecologia é altamente proveitoso tanto para os sindicalistas como para os jardineiros, como veremos a seguir.
Numa reserva ambiental de preservação ecológica é proibido por lei retirar espécies nativas mesmo que ainda em formação. É assim – reduzindo a ação humana ao mínimo – que os princípios ecológicos poderão aí se manifestar em harmonia. Já numa área projetada paisagisticamente, como um jardim ou parque, precisa haver esforço constante para manter a ordem implantada culturalmente pelo homem com freqüente erradicação de plantas invasoras espontâneas, geralmente nativas que brotam de sementes trazidas pelo vento ou por pássaros. Portanto existe uma radical oposição entre o que se deve fazer numa reserva ambiental ecológica e o que é necessário em terrenos de projetos paisagísticos.
A pessoa responsável pela manutenção de um parque conhece o insuperável contraste entre os dois tipos de tratamento, pois isso lhe é indispensável para alcançar sucesso na sua tarefa.
Assim sendo, numa lógica perversa e até (em alguns casos) inconsciente, é compreensível que os conceitos para a manutenção do SRBM sejam propositalmente confundidos pelos jardineiros e pelos sindicalistas que os apóiam, pois há muito mais trabalho a ser realizado dentro de um parque do que dentro de uma reserva. Nesta as funções se resumem a fiscalizar/impedir danos à natureza e naquele são jardinagem propriamente dita, o que inclui poda, adubação, transplantes, plantio, irrigação, fitossanitarismo, e até mesmo – “ó crime inafiançável” – erradicação de espécimes clandestinos.
Na peça Julio César, de Shakespeare, o personagem Brutus recomenda, durante o planejamento do assassinato de César, que os conspiradores devem se comportar como “sacrificadores”, em vez de parecerem “açougueiros”, pois sacrifícios eram então legítimos, indispensáveis e até louváveis para causas nobres. Já no outro caso, a ação do grupo seria percebida em sua real crueza e egoísmo.
Analogamente, ao pedir a cabeça de um diretor ou ao denunciá-lo a autoridades que coíbem crimes ambientais, um grupo não deve parecer estar motivado por motivos egoístas. É muito melhor agir como “nobres defensores da natureza” do que, aos olhos de todos, como apenas interessados em vantagens pessoais. Daí, nesses casos, a confusão conceitual – deliberada ou inconsciente, maligna ou ingênua – entre paisagismo e ecologia.
Creio haver identificado os motivos inconfessáveis de algumas censuras a alguns dos procedimentos obrigatórios de conservação do acervo natural, botânico e paisagístico do SRBM.
Os jardineiros (não todos, é claro) inclinam-se por minimizar seu trabalho, afinal, conforme lhes é dito pelo sindicato, “não ganham pra isso”. Querem também, é lógico, aumentar seus salários, mas sabem que isso é mais difícil, pois no IPHAN, além do direito a aposentadoria integral – um grande privilégio em nossa sociedade – já recebem mais dinheiro do que poderiam ganhar fora dele, como empregados da iniciativa privada.
Os dirigentes sindicais (não todos, é claro) querem parecer necessários aos jardineiros, que os elegem. Por isso posam de defensores indignados com a injustiça da relação muito-trabalho/pouco-salário. Para a política de alguns sindicalistas é bom que os jardineiros os percebam não só como aliados para aumentar os ganhos, mas também como advogados para diminuir suas contrapartidas individuais a esses ganhos, ou seja, para reduzir as tarefas pelas quais são pagos.
Em vista deste quadro de interesses, confundir paisagismo com ecologia é altamente proveitoso tanto para os sindicalistas como para os jardineiros, como veremos a seguir.
Numa reserva ambiental de preservação ecológica é proibido por lei retirar espécies nativas mesmo que ainda em formação. É assim – reduzindo a ação humana ao mínimo – que os princípios ecológicos poderão aí se manifestar em harmonia. Já numa área projetada paisagisticamente, como um jardim ou parque, precisa haver esforço constante para manter a ordem implantada culturalmente pelo homem com freqüente erradicação de plantas invasoras espontâneas, geralmente nativas que brotam de sementes trazidas pelo vento ou por pássaros. Portanto existe uma radical oposição entre o que se deve fazer numa reserva ambiental ecológica e o que é necessário em terrenos de projetos paisagísticos.
A pessoa responsável pela manutenção de um parque conhece o insuperável contraste entre os dois tipos de tratamento, pois isso lhe é indispensável para alcançar sucesso na sua tarefa.
Assim sendo, numa lógica perversa e até (em alguns casos) inconsciente, é compreensível que os conceitos para a manutenção do SRBM sejam propositalmente confundidos pelos jardineiros e pelos sindicalistas que os apóiam, pois há muito mais trabalho a ser realizado dentro de um parque do que dentro de uma reserva. Nesta as funções se resumem a fiscalizar/impedir danos à natureza e naquele são jardinagem propriamente dita, o que inclui poda, adubação, transplantes, plantio, irrigação, fitossanitarismo, e até mesmo – “ó crime inafiançável” – erradicação de espécimes clandestinos.
Na peça Julio César, de Shakespeare, o personagem Brutus recomenda, durante o planejamento do assassinato de César, que os conspiradores devem se comportar como “sacrificadores”, em vez de parecerem “açougueiros”, pois sacrifícios eram então legítimos, indispensáveis e até louváveis para causas nobres. Já no outro caso, a ação do grupo seria percebida em sua real crueza e egoísmo.
Analogamente, ao pedir a cabeça de um diretor ou ao denunciá-lo a autoridades que coíbem crimes ambientais, um grupo não deve parecer estar motivado por motivos egoístas. É muito melhor agir como “nobres defensores da natureza” do que, aos olhos de todos, como apenas interessados em vantagens pessoais. Daí, nesses casos, a confusão conceitual – deliberada ou inconsciente, maligna ou ingênua – entre paisagismo e ecologia.
Arte e Natureza no SRBM
25/10/2001
O Sítio Roberto Burle Marx é uma entidade sui generis. Enquadra-se nas modernas e abrangentes definições de museu, de jardim botânico ou de centro de estudos, mas, por isso mesmo, escapa de todas elas.
O Sítio -- não vejo necessidade de enquadrá-lo -- é o Sítio e dentre os museus, jardins botânicos e centros de estudos que conheço ou tenho notícia, é ele que mais explicitamente une Arte e Natureza.
Seu principal acervo é o que podemos denominar botânico-paisagístico. Ou seja: aliada aos critérios técnicos e científicos, o elenco e a disposição das plantas aqui busca alcançar também resultados estéticos.
Entretanto, não sem modéstia, dizia Roberto: “Eu, que fiz jardins para tantos, não tenho um. O Sítio é o lugar de minhas experiências em paisagismo.”
E, para fazê-las, cedo precisou dos ingredientes que entusiasmadamente iria colecionar pelo resto da vida. Bastava a noticia de algum lugar de flora intocada para imediatamente começar a traçar um roteiro, convidar amigos (sempre um botânico incluído), selecionar um time de jardineiros do Sítio e agendar a saída do caminhão.
Foram muitas dessas excursões a levar o olhar amoroso e implacável de sua equipe aos ecossistemas mais belos e preservados do Brasil para descobrir e coletar. Algo inviável hoje pela burocracia que atualmente é exigida, mas que sem dúvida foi tremendamente benéfico para a cultura de nosso país e para o meio ambiente de maneira geral.
Observar as plantas nos seus habitats e nas suas associações originais foi a lição que Roberto jamais se cansou de receber da Natureza e de retransmitir aos interessados que o rodeavam.
O resultado quantitativo disso é que hoje temos, além da coleção do Sítio, mais ou menos oitenta plantas em cuja descrição científica Roberto figura como primeiro coletor, cerca de vinte espécies e um gênero homenageando seu nome e a brutal ampliação do vocabulário vegetal utilizado nos jardins de nossas latitudes por todos os paisagistas.
Por ter encontrado, além de plantas, muita devastação por onde passou, um revoltado Roberto Burle Marx tornou-se defensor do meio ambiente. Isso bem antes da palavra ecologia entrar em voga. Em pronunciamentos contundentes de entrevistas e de inúmeras conferências realizadas, afirmava que conservando a Natureza, como um repositório de beleza e diversidade, podemos conferir um sentido mais elevado a nossas próprias vidas.
Para que suas plantas e o resultado das experiências não se perdessem, doou o Sítio em 1985 à então Fundação Nacional Pró Memória, hoje Instituto do Patrimônio Artístico Nacional, que o mantém desde então e o tombou em 10 de agosto de 2000.
“Percorrer o Sítio é sempre uma experiência gratificante, mesmo para o leigo. Os diversos ambientes que se sucedem, as florações alternadas durante as estações, o prazer de assistir aos diversos momentos de brotação, crescimento e frutificação das plantas são fatores que trazem inúmeros visitantes a percorrê-lo. A ordenação dos diversos elementos tem caráter didático, aliado a uma preocupação estética”. Estas palavras foram extraídas de uma de suas conferência, mas a mensagem não verbal que ele deixou é mais incisiva e não poupa ninguém. Embora muitas vezes não saibam explicar, os visitantes a sentem sob forma de encantamento.
Disse o filósofo Francis Bacon:”Fazer jardins é o mais puro dos prazeres humanos.”
Mas fazer da Natureza matéria prima da Arte, como fez nosso saudoso mestre, é algo mais. É, além de tudo, conscientizar pela demonstração do que é alcançável pelo homem e arrastar legiões com o exemplo de um que tratou seu habitat de maneira inteligente, respeitosa e apaixonada, aumentando com isso as probabilidades de que as gerações futuras possam, também, usufruir da beleza e, mesmo, da habitabilidade deste planeta.
O Sítio Roberto Burle Marx é uma entidade sui generis. Enquadra-se nas modernas e abrangentes definições de museu, de jardim botânico ou de centro de estudos, mas, por isso mesmo, escapa de todas elas.
O Sítio -- não vejo necessidade de enquadrá-lo -- é o Sítio e dentre os museus, jardins botânicos e centros de estudos que conheço ou tenho notícia, é ele que mais explicitamente une Arte e Natureza.
Seu principal acervo é o que podemos denominar botânico-paisagístico. Ou seja: aliada aos critérios técnicos e científicos, o elenco e a disposição das plantas aqui busca alcançar também resultados estéticos.
Entretanto, não sem modéstia, dizia Roberto: “Eu, que fiz jardins para tantos, não tenho um. O Sítio é o lugar de minhas experiências em paisagismo.”
E, para fazê-las, cedo precisou dos ingredientes que entusiasmadamente iria colecionar pelo resto da vida. Bastava a noticia de algum lugar de flora intocada para imediatamente começar a traçar um roteiro, convidar amigos (sempre um botânico incluído), selecionar um time de jardineiros do Sítio e agendar a saída do caminhão.
Foram muitas dessas excursões a levar o olhar amoroso e implacável de sua equipe aos ecossistemas mais belos e preservados do Brasil para descobrir e coletar. Algo inviável hoje pela burocracia que atualmente é exigida, mas que sem dúvida foi tremendamente benéfico para a cultura de nosso país e para o meio ambiente de maneira geral.
Observar as plantas nos seus habitats e nas suas associações originais foi a lição que Roberto jamais se cansou de receber da Natureza e de retransmitir aos interessados que o rodeavam.
O resultado quantitativo disso é que hoje temos, além da coleção do Sítio, mais ou menos oitenta plantas em cuja descrição científica Roberto figura como primeiro coletor, cerca de vinte espécies e um gênero homenageando seu nome e a brutal ampliação do vocabulário vegetal utilizado nos jardins de nossas latitudes por todos os paisagistas.
Por ter encontrado, além de plantas, muita devastação por onde passou, um revoltado Roberto Burle Marx tornou-se defensor do meio ambiente. Isso bem antes da palavra ecologia entrar em voga. Em pronunciamentos contundentes de entrevistas e de inúmeras conferências realizadas, afirmava que conservando a Natureza, como um repositório de beleza e diversidade, podemos conferir um sentido mais elevado a nossas próprias vidas.
Para que suas plantas e o resultado das experiências não se perdessem, doou o Sítio em 1985 à então Fundação Nacional Pró Memória, hoje Instituto do Patrimônio Artístico Nacional, que o mantém desde então e o tombou em 10 de agosto de 2000.
“Percorrer o Sítio é sempre uma experiência gratificante, mesmo para o leigo. Os diversos ambientes que se sucedem, as florações alternadas durante as estações, o prazer de assistir aos diversos momentos de brotação, crescimento e frutificação das plantas são fatores que trazem inúmeros visitantes a percorrê-lo. A ordenação dos diversos elementos tem caráter didático, aliado a uma preocupação estética”. Estas palavras foram extraídas de uma de suas conferência, mas a mensagem não verbal que ele deixou é mais incisiva e não poupa ninguém. Embora muitas vezes não saibam explicar, os visitantes a sentem sob forma de encantamento.
Disse o filósofo Francis Bacon:”Fazer jardins é o mais puro dos prazeres humanos.”
Mas fazer da Natureza matéria prima da Arte, como fez nosso saudoso mestre, é algo mais. É, além de tudo, conscientizar pela demonstração do que é alcançável pelo homem e arrastar legiões com o exemplo de um que tratou seu habitat de maneira inteligente, respeitosa e apaixonada, aumentando com isso as probabilidades de que as gerações futuras possam, também, usufruir da beleza e, mesmo, da habitabilidade deste planeta.
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